26.10.10

Somos dependentes do abate animal

Se você é adepto do vegetarianismo por questões pessoais como simples preferência gastronômica, ok. Também aprecio uma boa salada de vez em quando. Aprendi a comer proteína de soja em função de uma reeducação alimentar pra perder uns quilos. Tenho um amigo que é vegetariano (um dos argumentos dele é que o esperma de quem adota tal dieta tem gosto de avelã. Segundo o próprio, uma amiga que disse...), mas que não se furta a tomar um sorvete de vez em quando ou uma colherada de mel como sobremesa.

Você também pode se sentir desconfortável, e deveria mesmo, com a idéia da quantidade de sofrimento imposta aos animais abatidos, como eu mesmo fico. A ilusão da fazendinha do interior com os animais vivendo felizes não resiste à conscientização da pressão que a humanidade faz no ecossistema, bem como a poluição atmosférica e do solo que imensos rebanhos causam [1] [2]. Mais uma vez bato na tecla: nossa espécie está em número tão grande que arrisca nossa própria sobrevivência. Com um número 99% menor do que hoje estaríamos muito bem, obrigado. Esse é um assunto pelo qual vale uma militância, mas infelizmente humanos não são fofinhos, a não ser quando são filhotes. Certamente imagens como as do documentário Earthlings [3] chocam por demais, porém uma posição onde se defenda a total abstinência quase monástica à nossa dependência dos animais é uma falácia exagerada.

Não importando a motivação, o abate de gado de corte não se restringe apenas à carne, como muitos insistem em propagar. Grande parte de nosso conforto (palavra que pode soar hedonista nesse contexto) e capacidade de sobrevivência depende das dezenas de subprodutos do gado, como os adubos orgânicos, hormônios, insumos para pesquisas etc. Lembro de ter lido um ditado muito antigo em um Almanaque Globo Rural: do boi só não se aproveita o mugido. E se fui contido, foi pra amenizar o estampido abaixo, lá do Caixa Pretta. Clique para ler a letra miúda, mas são as garrafais as mais legais.

25.10.10

"Nesse país se respeitam as decisões pessoais"


Cartum do Laerte (clique para ver por completo) e textos de Helio Schwartsman, com quem concordo inteiramente. Gostaria até de me estender um pouco mais sobre esse assunto, até porque me interessa diretamente, pois tenho uma namorada que eu amo e respeito muitíssimo todos os aspectos dela que são significantes para o momento: a inteligência, a lucidez, a crítica e seu agnosticismo. Embora tomemos as devidas precauções para não engravidarmos (e uso a terceira do plural propositalmente), caso alguma eventual falha aconteça e ela venha a ser fecundada, o assunto certamente viria à baila. No momento onde os encontramos, traçando planos concretos para nossa vida futura, uma criança seria um incômodo seríssimo, ainda mais se levarmos em consideração que ela mora em Brasília (temporariamente em Belo Horizonte) e eu no Rio.

Embora minha opinião sobre o aborto seja clara, sou a favor, mesmo que fosse do contra é dela a palavra final, pois é dela o corpo. Pertence a ela o inalienável direito de julgar o que é bom para si ou não. E mesmo que eu fosse um daqueles religiosos cabeça fechada (duvido muito que ela se envolveria comigo nessas condições), não residiria em qualquer autoridade, seja eclesiástica ou legal, dizer para ela como a vida dela pessoal deve ser.

Enfim, prefiro me fazer entender por palavras melhores e argumentos mais bem construídos por uma erudição algumas escalas além da minha. Fiquem com a Pensata da Folha.

(1) Abortando o problema
(2) Abortando o problema 2, a curetagem
(3) Abortando o problema 3, o epílogo

18.10.10

Jesus conta?

Maringá, 2010.
Relatado no jornal O Diário em sua edição online.

Que o nome de todos os moradores deve ser perguntado, o recenseador Rodolfo Roberto, de 18 anos, sabe muito bem. O que não esperava era ter que incluir como morador ninguém menos que Jesus, a pedido da entrevistada. "A senhora evangélica ficava atrás de mim enquanto preenchia as respostas no computador de mão para ver se eu havia colocado mesmo mais um morador." As questões relativas à data de nascimento e trabalho também tiveram que ser respondidas sobre Ele. "A mulher disse que Ele nasceu em dezembro, mas não soube o ano, nem o rendimento mensal."

Pergunta pro pastor que ele sabe.

6.10.10

Lá e de volta outra vez

Mais uma longa pausa do Caneca. De tempos em tempos eu faço isso, acometido de um intenso fastio pela escrita. Imagino eu que seja uma reação endêmica ao assunto que é minha argamassa: religião. Tem horas que simplesmente cansa ver os mesmos erros serem cometidos ano após ano, as mesmas implicações que passam incólumes pela massa e que cada dia mais se infiltra gotejando lentamente dentro das estruturas públicas. Ou talvez seja a simples falta de tempo para pesquisar e estudar. O importante é que desta feita, algo mudou.

Dei-me conta agora que esse último período de hibernação me fez voltar mais politizado. Acho que voltei dessa vez com outro viés, e gosto do que tenho pensado.