11.1.11

No seu devido lugar


O universo é alheio ao que acreditamos, ao que deixamos de acreditar, ao nosso sofrimento e a tudo o mais que acontece em nosso pálido ponto azul, já dizia o eterno Carl Sagan. O que a humanidade faz ou deixa de fazer não muda nada o rumo físico que a matéria cósmica toma. Muito se especula se o mundo seria diferente se não houvessem céticos no mundo ou se a religião não tivesse sido inventada. Certamente podemos afirmar que uma humanidade 100% cética ou uma 100% crédula resultaria em um registro histórico radicalmente diferente do atual, mas isso não faria de forma alguma diferença para uma supernova que se expande e engole mundos inteiros, poeira orgânica, detritos, partículas, água e mínimos traços de matéria que preenchem o que chamamos de vácuo ou para as estrelas que nascem do detrito da explosão de outras estrelas que nasceram de outras e de outras e de outras.

Achar que fazemos alguma diferença nessa equação só porque uma quantidade de pessoas com complexo de superioridade astronômica, carência solipsista irrecuperável, megalomania fantástica napoleônica e um senso de importância em escala messiânica, tem a impressão de que tudo foi feito por uma entidade mágica que, aliás, curiosamente se assemelha a ela própria em todas as suas características mundanas, boas e más, para agradá-las em toda a sua insignificância é se hipervalorizar em uma escala maior que tudo. É a prepotência gerada pela ignorância de achar que o próprio umbigo tem força gravitacional de um buraco negro que certamente faz essa gentinha achar que tem alguma importância frente ao universo.

Uma pena que não enxerguem seu verdadeiro lugar em ser aproximadamente 1/7.000.000.000 de uma espécie orgânica aparentemente solitária num raio de trilhões de anos-luz, talvez muito mais, infinitamente mais, vivendo em um amontoado de ferro e rocha submetidos à atração da massa de uma estrela de significância mínima na periferia de uma galáxia menor. Sinto-me muito bem apenas por ter a consciência disso, o que é mais que a maioria esmagadora de toda forma de vida que já existiu ou existirá conseguirá fazer. E mesmo esse feito durará um período de tempo que é uma fração infinitesimal em relação ao tempo que toda matéria existe. Mesmo que eu me esforce muito para disseminar esse conceito, nossa existência cessará muito antes de nossa espécie ter feito alguma diferença significativa nos arredores do nosso sistema planetário.

Como poderia me contentar com devoção religiosa insípida depois de experimentar isso?

2.1.11

3meia5 - 365 dias. 365 autores diferentes

2011 começa com um presente legal. Fui escalado para contribuir com uma das trezentas e sessenta e cinco postagens programadas para 2011 no blog 3meia5 (clique no banner acima para ir pra lá), uma iniciativa do Ivan Niero que chupou do The3six5 a idéia sensacional de ampliar a experiência para nós falantes do português PT-BR. Manda um email pro cara (nieroivan@gmail.com) e seja responsável por 1/365 desse projeto. Se não me engano tem pouco mais de 30 ou 40 datas livres ainda. Go! Go! Go!